domingo, 5 de outubro de 2014

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CHAG SUCOT SAMEACH !!!!!!
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Próximo Cabalat Shabat em 24 de outubro de 2014, às 19h15min!


Datas para Agendar:
Sucot em 9 de outubro de 2014

SUCOT: AFINAL, OS ULTRA ORTODOXOS DEVEM IR PARA O EXÉRCITO? – UMA LEITURA SOBRE SUCOT E A DESUNIÃO DO POVO JUDEU.

Um dos debates mais “quentes” e polêmicos em Israel hoje é quanto à obrigatoriedade de todos os habitantes do país servirem o exército, em especial certos grupos de charedim [ultra ortodoxos] que, historicamente, têm uma dispensa automática do serviço militar.

Há diversos argumentos de ambos os lados, mas um dos argumentos mais interessantes (independentemente de se concordar ou não com ele) do lado que defende a dispensa automática é de que os charedim não devem ir ao exército para poderem se dedicar mais intensamente ao principal afazer de suas vidas, o estudo intensivo da Torá. E isso porque, ao estudar Torá, eles supostamente executam, de alguma maneira, uma importante função espiritual para o povo e para o país. Muitos chegam a afirmar que o sucesso de Israel em outras áreas (inclusive o próprio Exército) se devem à bênção divina devido ao mérito desses estudiosos.

Esse, obviamente, é um argumento que pode ser questionado de diversas maneiras, mas há, de qualquer forma, um embasamento teórico-histórico interessante em prol dele. Trata-se do acordo estabelecido, na época bíblica, entre as tribos de Issachar e Zevulun, no qual a tribo de Zevulun trabalhava para sustentar ambas financeiramente e a tribo de Issachar estudava Torá para sustentar ambas espiritualmente, numa espécie de cooperação em que os méritos eram divididos entre as duas tribos. Essa cooperação se baseia na bênção dada por Moshe a essas duas tribos juntas, que está escrita na parashá Vezot Habrachá: “Alegra-te, Zevulun, em teu sair (representando o trabalho) e Issachar, em tuas tendas (representando o estudo)” (Devarim 33:18).

Baseados nesse acordo entre Issachar e Zevulun, muitos afirmam que, hoje em dia, em Israel, algo semelhante pode acontecer. As tarefas podem ser dividas; nem todos precisam fazer a mesma coisa, no caso, o Exército, mas, se todos cooperarem, cada um fazendo o que faz bem, um terá sucesso pelos méritos do outro e vice-versa e o país terá paz e tranquilidade. Dessa maneira, os charedim contribuiriam com o Estado como Issachar, por meio do mérito de seu estudo, e outros grupos sociais, como Zevulun, por meio de seu serviço militar. E tudo estaria bem.

Sabemos, entretanto que, salvo algumas exceções, não é isso que acontece. Primeiramente, não está tudo bem porque essa não uma solução que agrada todos os lados. A grande maioria da população não-charedi não está de acordo com isso, não vê nenhuma importância do estudo de Torá dos charedim para o povo ou para o Estado e, muito menos, trabalha, luta ou serve o Exército pensando em proteger os estudiosos. Muitos charedim, também, não vêm em seu estudo uma forma de cooperar nem com o Estado de Israel nem com a sociedade israelense de maneira geral, que consideram como algo errado e pecaminoso. Ou seja, de maneira geral, Zevulun não trabalha pensando em sustentar Issachar e Issachar também não estuda pensando em proteger Zevulun com seus méritos.

Quer dizer, a coisa dessa maneira não vai bem. Cria-se, ao invés da cooperação, uma profunda inimizade entre os grupos, gerando desunião do povo e uma forte tensão social, algo prejudicial em todos os sentidos, tanto para cada grupo individualmente como para a nação de maneira geral. Como vencer esse grande problema é, acredito, o maior desafio contemporâneo de Israel e do povo judeu como um todo. E a festa de sukot nos traz uma ideia muito interessante nesse sentido, por meio da mitsvá dos arba’at haminim [quatro espécies].

Essa curiosa mitsvá consiste simplesmente no seguinte: durante todos os dias (exceto shabat) da festa de sukót (que começa, por sinal, nesta quarta à noite e vai até a próxima quarta), cada pessoa deve pegar uma cidra [etrog], uma folha de tamareira [lulav], três ramos de mirta [hadas] e dois ramos de salgueiro [aravá], unir as quatro espécies e, shoin, é isso!

Por mais estranha e sem sentido que essa mitsvá de simplesmente pegar um punhado de plantinhas durante uma época específica do ano possa parecer, há uma explicação simbólica muito interessante que associa cada vegetal a um tipo de judeu, de acordo com suas características ao paladar e ao olfato: a cidra [etrog], fruta cítrica muito cheirosa e saborosa está ligada ao judeu que cumpre as mitsvót e estuda a Torá, entendendo o que faz; a folha de tamareira [lulav], que não tem cheiro, mas cujos frutos, as tâmaras, têm um sabor muito doce e forte, representa o judeu que não tem a característica externa (cheiro) de praticar as mitzvót, mas estuda a Torá e a compreende internamente (gosto); a mirta [hadas], erva muito cheirosa mas sem gosto nenhum, representa exatamente o contrário, o judeu que cumpre as mitsvót, mas não estuda a Torá nem compreende o que faz; e, finalmente, mas não menos importante, as folhas de salgueiro [aravá], que não têm nem cheiro nem gosto, simbolizam o judeu que não cumpre as mitsvót nem estuda a Torá.

Bom, mas essa explicação parece não só não explicar nada, como também trazer uma outra ideia aparentemente sem sentido! Se o ideal da Torá é que todos se dediquem ao seu estudo e ao seu cumprimento, porque seria necessário, para cumprir a mitsvá, utilizar espécies que representam tipos incompletos? Quer dizer, se o etrog em si já representa esse ideal completo, como podem os outros elementos, aparentemente inferiores, completá-lo de alguma maneira?

Se alguém está achando que eu vou dar a resposta para essa pergunta, se enganou, porque eu realmente não sei. Mas o que é importante, na verdade, é que essa pergunta seja feita. Isto é, é importante que cada judeu, sentindo-se representado não importa por qual das espécies, possa se perguntar e buscar para si respostas sobre como os outros tipos podem, de alguma maneira, completá-lo.

Se cada judeu, seja ele um etrog, um lulav, um hadas ou um arava, seja ele charedi ou não, ashkenazi ou sefaradi, religioso ou secular, ortodoxo, reformista ou conservador, se ele for capaz de se fazer essa pergunta de como ele pode completar e ser completado pelos outros tipos, estará dando o primeiro passo no sentido de vencer o nosso grande desafio contemporâneo da desunião.

Se cada um de nós souber se enxergar no lugar de uma espécie incompleta, poderemos nos unir e transformar nossas diferenças que nos fazem brigar e nos odiarmos uns aos outros em motivos para fazermos acordos, cooperações e alianças e vivermos em paz e ajuda mútua, verdadeiramente como Issachar e Zevulun. Chag sameach!

David Rosenberg Krausz