domingo, 23 de novembro de 2014

Próximo Cabalat Shabat em 5 de dezembro de 2014, às 19h15min!


Para colaborar financeiramente com o nosso kidush aperte no link abaixo:


Datas para Agendar:
Chanuká de 16 a 24 de dezembro de 2014



PARASHÁ DA SEMANA: Vaietsê / 5775


Dorian Grey negociou com Deus a juventude eterna no famoso romance de Oscar Wilde. Antes, Fausto, de Goethe, vende sua alma ao diabo a fim de ganhar conquistas e imortalidade. E antes ainda, no livro bíblico de Jó, é o próprio diabo que negocia com Deus a integridade de Jó.


É possível negociar com Deus? O que poderia ser oferecido a Ele uma vez que possui tudo e não tem necessidades de nenhum tipo? E qual seria o significado de semelhante ação?


Tevye, o leiteiro de Scholem Aleichem, não chega a negociar, mas quase propõe a Deus que, por pelo menos uma vez, outros povos sejam os escolhidos para que, nós, os judeus, soframos menos.
  
Várias semanas atrás, lemos a famosa negociação de Abraão com Deus em prol da salvação da cidade de Sodoma –  se Abraão achasse lá cinquenta pessoas justas, a cidade inteira seria salva da destruição que merecia por tanta corrupção e insensibilidade.

Nenhum dos casos mencionados especifica claramente o que é entregue a Deus em troca do que é obtido. Menos ainda explica-se porque Deus aceitaria a negociação (com exceção da história de Abraão, na qual a justiça estaria em jogo, a credibilidade na justiça divina, bem como a integridade, no caso de Jó).

Na parashá da semana, o patriarca Jacó negocia com Deus e oferece algo inaceitável por qualquer parceiro de negociação: “de tudo que me der, devolverei um dízimo”. Nada mais. Simplesmente um décimo do que Deus desse a Jacó seria oferecido de volta a Deus, e o restante, 90%, ficaria com Jacó!

O mais inacreditável, além da própria negociação com Deus e da oferta inaceitável de retorno de apenas um décimo, é que Deus aceita essas condições.

Uma frase talmúdica sugere que tudo poderá estar nas mãos de Deus, menos a vontade humana. A vontade seria totalmente livre ou guardaria alguma liberdade absoluta. No mínimo. Por isso, a única coisa que Deus não teria seria o controle sobre a vontade humana. Desse modo, a única coisa que o homem poderia oferecer a Deus seria sua vontade de oferecer algo. Fosse um dizimo, um cêntimo ou um milésimo de si. A quantidade, como o objeto em si, seria menos importante. O valor estaria na disposição a dar, na vontade de querer dar. Ou melhor, dar a vontade, no duplo sentido da expressão: ‘dar à vontade’ e ‘dar a vontade humana em si’.

A parashá estaria propondo que não é tão importante o que temos, e sim o que fazemos com o que temos, ou como temos o que temos. Como somos a partir do que temos. Seja a respeito de bens materiais, emocionais, sociais, físicos ou espirituais.

Que possamos valorizar o que temos e acrescentar valor ao que somos através do que fazemos com o que temos.  Se o que mais possuímos, de verdade, é a nossa vontade, que saibamos usar a liberdade de nossa vontade para querer o verdadeiramente melhor.

Rabino Ruben Sternschein

Congregação Israelita Paulista de 5 de novembro de 2013.