Para colaborar financeiramente com o nosso kidush aperte no link abaixo:
Datas para Agendar:
Chanuká de 16 a 24 de dezembro de 2014
PARASHÁ DA SEMANA: Vaietsê / 5775
Dorian Grey negociou com Deus a juventude eterna no famoso romance de Oscar Wilde. Antes, Fausto, de Goethe, vende sua alma ao diabo a fim de ganhar conquistas e imortalidade. E antes ainda, no livro bíblico de Jó, é o próprio diabo que negocia com Deus a integridade de Jó.
É possível negociar com Deus? O que poderia ser oferecido a Ele uma vez que possui tudo e não tem necessidades de nenhum tipo? E qual seria o significado de semelhante ação?
Tevye, o leiteiro de Scholem Aleichem, não chega a negociar, mas quase propõe a Deus que, por pelo menos uma vez, outros povos sejam os escolhidos para que, nós, os judeus, soframos menos.
Várias semanas atrás, lemos a famosa
negociação de Abraão com Deus em prol da salvação da cidade de Sodoma – se Abraão achasse lá cinquenta pessoas
justas, a cidade inteira seria salva da destruição que merecia por tanta
corrupção e insensibilidade.
Nenhum dos casos mencionados especifica
claramente o que é entregue a Deus em troca do que é obtido. Menos ainda
explica-se porque Deus aceitaria a negociação (com exceção da história de
Abraão, na qual a justiça estaria em jogo, a credibilidade na justiça divina,
bem como a integridade, no caso de Jó).
Na parashá da semana, o patriarca Jacó
negocia com Deus e oferece algo inaceitável por qualquer parceiro de
negociação: “de tudo que me der, devolverei um dízimo”. Nada mais. Simplesmente
um décimo do que Deus desse a Jacó seria oferecido de volta a Deus, e o
restante, 90%, ficaria com Jacó!
O mais inacreditável, além da própria
negociação com Deus e da oferta inaceitável de retorno de apenas um décimo, é
que Deus aceita essas condições.
Uma frase talmúdica sugere que tudo poderá
estar nas mãos de Deus, menos a vontade humana. A vontade seria totalmente
livre ou guardaria alguma liberdade absoluta. No mínimo. Por isso, a única
coisa que Deus não teria seria o controle sobre a vontade humana. Desse modo, a
única coisa que o homem poderia oferecer a Deus seria sua vontade de oferecer
algo. Fosse um dizimo, um cêntimo ou um milésimo de si. A quantidade, como o
objeto em si, seria menos importante. O valor estaria na disposição a dar, na
vontade de querer dar. Ou melhor, dar a vontade, no duplo sentido da expressão:
‘dar à vontade’ e ‘dar a vontade humana em si’.
A parashá estaria propondo que não é tão
importante o que temos, e sim o que fazemos com o que temos, ou como temos o
que temos. Como somos a partir do que temos. Seja a respeito de bens materiais,
emocionais, sociais, físicos ou espirituais.
Que possamos valorizar o que temos e
acrescentar valor ao que somos através do que fazemos com o que temos. Se o que mais possuímos, de verdade, é a
nossa vontade, que saibamos usar a liberdade de nossa vontade para querer o
verdadeiramente melhor.
Rabino
Ruben Sternschein
Congregação Israelita Paulista de 5 de novembro de 2013.